18 janeiro 2010

tremores no céu

Disseram-me que houve tempestade no céu. E um sismo também. E os tsunamis e os tremores fizeram-se sentir cá em baixo, na Terra, onde andamos a olhar para os pés, para o lado, para cima ou para a frente e poucas vezes para dentro. E o chão cedeu. E veio um eclipse e tudo acalmou. Foi bom. Tempestade no céu, amor verdadeiro em terra. Às vezes é preciso regressarmos ao centro. De nós.

10 janeiro 2010

a cor do álcool

O álcool não tem cor. É apenas um filtro. Por isso o bebemos. Ontem perguntavam-me como consigo divertir-me à noite e aguentar até tarde sem beber álcool... É simples: divirto-me com ou sem, mas de maneira diferente. Se bebo, relaxo e vejo as pessoas como são. Se não bebo, desperto e vejo as pessoas como elas gostariam de ser; o que revela muito mais sobre a sua identidade...
O álcool é um filtro que nos protege na noite. Mas muito mais eficaz do que aqueles inventados há uns anos para os computadores e que não serviam para nada. O álcool ajuda as pessoas a saberem o que fazer com as mãos, a dizerem o que querem e a ouvirem o que de outra maneira não quereriam. O álcool dá uma coragem falsa, mas fiel ao nosso lado mais selvagem. Para muitos é uma forma de aguentar a bebedeira dos outros. Para todos é a maneira mais fácil de descer a um nível de inconsciência primitiva, quando as batidas dos tambores tribais e os gritos da natureza bastavam para sermos felizes. A noite é hoje o caminho que encontrámos para regressarmos ao início dos tempos. Quando não bebo, o que é a maior parte das vezes, é uma forma de persistir na civilização. Consciente.

08 janeiro 2010

quando somos

Quando somos, somos grandes. Quando somos, podemos decidir deixar de fumar ou retomar por estupidez. Podemos mandar tudo ao ar ou decidir ficar. Entrar num bar, beber, dançar ou desatinar. Amar ou odiar. Comer ou fechar a boca. Dormir ou arregalarmo-nos sem medo da noite. Nadar ou afogarmo-nos na areia. Gastar bem, poupar mal ou crescer e conviver generosamente com o dinheiro. Quando somos, podemos abandonar casas, retornar a elas, escolher outras, imaginar algumas ou viver a céu aberto. Ouvimos a música que queremos. Dizemos ou guardamos as palavras que queremos. Podemos nada fazer por mal ou decidir fazer algo por bem. E se quisermos despir-nos? Também. E também podemos vestir caro ou piroso. Até podemos, quando somos, andar trajados de amianto com um isqueiro no bolso. Quando somos, somos grandes, e o que somos seremos até que nos doa ou alguém nos puxe para um lado ou para o outro.
Quando somos, somos infernalmente felizes ou infelizes.