03 julho 2009

festa (e um exercício de futorologia)

Hei-de andar a passear serenamente na Baixa elevada a Património da Unesco, com o cabelo empoderado de laca amiga do ozono (queira Deus que sem bengala que eu vou fazer shiatsu até morrer), os meus filhos (hoje estou muito optimista) são os políticos que levaram o país a zero por cento de abstenção, os meus netos (continuo optimista a falar assim no plural) vivem felizes numa cidade de bairros, andam em boas escolas públicas e não comem porcarias, as minhas amigas envelheceram bem e continuam a aturar-me, os meus amigos também envelheceram bem e continuam a achar-me gira (hoje também estou particularmente modesta), os homens que amei são todos meus amigos e há-de haver um que escapou e está ao meu lado, não haverá sem-abrigo nem pedintes na rua, Lisboa será a capital da confederação das cidades mais avançadas da Nova Terra (soa tão bem)... e eu hei-de sempre, sempre, sempre... gostar de festa, imagine-se. No culminar da existência é assim que me imagino: a festejar. A rir no meio de vozes e de caras que me aconchegam, com um tinto para comemorar, um colar especial, um vestido que brilhe, o sorriso dos amigos, a lembrança sentida dos que partiram, a música que está inscrita em cada top ten da minha vida. A festa, eu sei, que eu já agora amo tanto, será melhor ainda no final da etapa que comecei nos anos setenta do século passado. O meu mapa do céu estará a completar-se e juntarei todas as comemorações. Serão as melhores festas da minha vida. A bola de espelhos está encomendada e haverá bar aberto.

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