11 outubro 2009

exercício com final feliz

Uma vez disseram-me que é quando estou mal que escrevo bem.
Talvez por isso me tenham ligado ontem a perguntar se ando muito feliz pois não tenho escrito no blogue.

Não sei exactamente o que significa "estar mal", porque no fundo nunca estou verdadeiramente mal ou bem. Ultimamente, sobretudo, procuro simplesmente estar. Que é o verbo mais fácil de aplicar.
Estar é como a história do ovo de Colombo, tão simples e, ao mesmo tempo, de tão ceguinhos que andamos, estupidamente inalcançável.

É um exercício difícil, mas muito compensador, este que ando a fazer desde há dois anos. Estar. Aliás, nos últimos três anos, além de falar pelos cotovelos, é mesmo o único exercício confessável que pratico.

O que é estar? Como se pratica?
Não é preciso nenhum equipamento especial nem pagar mensalidades absurdas num ginásio.
Nem corremos o risco de sofrer lesões e de transpirar que nem uns doidos.

Estar é precisamente o contrário disso tudo. É não correr à frente do tempo. É não levantar pesos que não valem o esforço. É não alongar situações penosas. É não contrair músculos com medo do que vão pensar de nós. É, enfim, não trabalhar partes do corpo desnecessariamente, a racionalizar as emoções.

Estar é difícil de praticar. É peciso treino diário. Às vezes até precisamos de um personal trainer para nos ajudar a não desistir. Porque praticar o estar implica resistirmos minuto a minuto a deixarmo-nos levar pelas emoções negativas e, até mesmo, pelas positivas.
A felicidade não pode despender disso. A boa forma significa que aceitemos o bom e o mau sem confundir isso com a nossa identidade.

Estamos lixados com o trabalho? Estamos descorçoados com o namorado(a)? Estamos f... com falta de dinheiro? Ok. Então estamos isso tudo. Aceitamos que existe infelicidade, tristeza, desilusão, o que quer que seja, dentro de nós. Mas isso não pode significar que nos assumamos como uma pessoa infeliz, triste, desiludida. As emoções não podem traduzir-se naquilo que somos enquanto pessoas. O que sentimos não é o que somos.

É de facto um exercício difcil de praticar. Eu disse.
Mas a boa forma que dia-a-dia vamos vendo ao espelho... ui, se compensa.

Da mesma maneira, com as emoções positivas. Euforia, encantamento, enamoramento, tesão, liberdade económica, sucesso profisissional. Tudo isto faz-nos sentir felizes, mas cuidado para não nos esticarmos na passadeira a julgar que vamos ganhar as próximas Olimpíadas e bater recordes.
São emoções. Habitam-nos por tempo indeterminado e intermitente.
Vale a pena deixar fluir a raiva, a ansiedade, a revolta, a alegria, o desejo, a tristeza, a paixão, tudo. É assim que tem de ser e temos de nos aguentar.
O que não vale a pena é confundir isso tudo com o que somos. Somos para além disso.

E já agora, é verdade que estou feliz por estes dias, e até um bocadinho tola. Mas a neura está sempre à porta e o mau feitio também.
Se calhar não tenho escrito no blogue porque ando em treino intensivo.

1 comentário:

Lolita disse...

hum..... o que a felicidade faz!!! E ainda bem.