01 outubro 2009

mulher sem cão procura homem com coração

Se a minha vida fosse uma comédia romântica poderia ter este título: Mulher sem cão procura homem com coração... e sem cão.

Homens com cão? Não. Porquê? Porque não. Porque não não é resposta, diz a minha sobrinha Mafaldinha de três anos com o dedo no ar. Pois não é, mas para mim tem chegado e nunca ninguém me pediu explicações maiores sobre o tema.

Hoje resolvi eu mesma pedir-me explicações. E eu não consigo fugir a mim própria.

Ainda no outro dia olhava fascinada para o meu sobrinho de quatro patas, o Disco (um pug de sete quilos, com um focinho giro, giro, capaz de desarmar qualquer um), mas mantive, como sempre, a distância de segurança de pelo menos meio metro. A mãe não me perguntou porque é que eu não o metia no colo e o deixava lamber-me, como todos os outros tios fazem. Ela já sabe que eu não sou aquilo a que se chama uma dog person.

As dog persons são pessoas muito fora de mim, que eu jamais vou conseguir entender totalmente. No fundo admiro a sua capacidade de dádiva e de abnegação social. Ter um cão e devotar-lhe a atenção, o carinho e os cuidados que merece não é para qualquer um. E sinceramente sempre achei que não estou à altura.

Há várias teorias. Que tenho medo de uma mordidela, que fui atacada por cães em criança, que tenho a mania da limpeza e que confusão me fazem os pelos, as lambidelas e o cheiro, entre outras. E ainda o medo de sofrer mais uma perda. São todas verdade.
Mas, no essencial, a mais verdadeira é que ter um cão confronta-me com a fragilidade da vida.
Fico tensa quando percebo que aquele ser depende totalmente de nós, humanos, para sobreviver. Fico sem saber como lidar com a respiração, o palpitar das células debaixo do pelo, os rasgos de inteligênca, de lealdade e de total dependência que observo naqueles seres de quatro patas que levam muitas vezes as vidas dos seus donos à loucura.

Homens com cães foram sempre, portanto, um sinal de que os trabalhos são a dobrar.
Numa alegação perfeitamente egoísta e comodista da minha parte: um homem com cão é um homem que tem um grau de gestão dos seus afectos acima da minha capacidade. E num acto de contrição realmente digno do efeito inquisitório em causa própria: Um homem com cão tem menos tempo para mim.

Será da minha formação católica, ou a confissão é mesmo uma forma de libertação?

Pela quantidade de palavras acabadas em ão neste post, levo-me a crer que, por estes dias, ando com a palavra cão a soar com demasiada frequência na minha cabeça.

Não sou uma dog person. Não creio que alguma vez o seja. Mas sou uma pessoa que gosta de dog persons. Uma "dog persons lover", portanto. Servirá?




5 comentários:

Tó disse...

Olha, eu nunca imaginei vir a ser uma dog person, aconteceu e pronto. Agora sou 100% dog person, desde o pequenote que tenho em casa até ao nome da empresa! Garanto-te que há bastante espaço para um cão e uma paixão no mesmo coração (isto para seguir a tua cadência de palavras acabadas em ão).
Até te digo mais, o facto de alguém não ter espaço no coração para um cão pode querer dizer que também não tem espaço para ti. Não é uma matemática assim tão linear. Se alguém está disposto a abdicar de uma série de confortos e de se responsabilizar por uma criatura indefesa, imagina o que pode fazer por ti...

;)

Lolita disse...

Para mim chegas assim!!! :-)
e serás sempre a tia do Disco...com a sua coleira de brilhantes!

J. Maldonado disse...

Não sou nenhuma dog person e muito menos aprecio as dog persons que vivem no meu prédio, pois contribuem para a sujidade da minha rua quando vão passear os cães...
Se calhar é por eu ser demasiado ensimesmado que não consigo viver com um animal em casa.
Já tive uma gata que me foi oferecida à força, mas como tenho uma vida agitada nem sempre podia cuidar dela em condições. Além disso só fazia estragos...
Teve que ser recambiada para quem ma ofereceu à força...

Pedro Soares Lourenço disse...

Eu também gosto muito de cãezinhos e afins animais…, desde que sejam dos meus amigos. ;)

Outra coisa: tens aqui um excelente blogue, Ana; parabéns [isto sou eu cá a pensar com os meus botões: queres ver que finalmente via facebook encontrei alguma coisa verdadeiramente relevante?]. Estou com vontade de arranjar tempo para o ler de fio a pavio.

Anónimo disse...

com que então "dog person"... já me chamaram muita coisa... enfim!

beijinhos meus e do gig