10 setembro 2009

Lisboa hoje, só hoje

Hoje apetecia-me que a cidade dormisse cedo, no sofá, em frente à TV, num estado de imbecilidade e dormência, sem necessidade de servir copos, de sacudir-se ao som do DJ e da fusão mais recente, sem ganas de se colocar na primeira fila para a estreia da peça, do filme ao ar livre, da festa de inauguração daquele novo sítio com vista do miradouro. Hoje queria que Lisboa nem sequer se pudesse ver a si mesma, corresse as cortinas com desejo de privacidade, fosse católica com vergonha dos seus pecados, fosse púdica nos seus afectos, sem olhares, nem seduções, nem comida fora de horas. Hoje queria que Lisboa nem sequer comesse e fosse de castigo para a cama. Quem dorme janta. Hoje queria que Lisboa fosse uma aldeia entalada na serra, sem equipamentos nem agentes culturais. Hoje queria que Lisboa fosse feia, tão feia que nem interessante podia ser. E que recolhesse a roupa dos estendais, tapasse os azulejos com panos pretos e sofresse um apagão. E às escuras eu dormiria com ela.

3 comentários:

ressano disse...

depois desta vou me deitar
beijinhos
Raul

Samuel Filipe disse...

Uma Lisboa diferente pelo estado de espírito, mas não menos verdadeira.

LURBA disse...

Ai Lisboa, Lisboa...
... isto é Lisboa!!! (e é bela e única)
Bom fim de semana ;-DDD