24 agosto 2009

meu querido Agosto

O pai que empurra o carrinho. O bebé alagado em suor com o chapéuzito comprado para as férias a dar com o fato de banho. A mãe que carrega as papas, as fraldas e as mudas de roupa. O avô que orienta a direcção a tomar na praia. A avó que ora segue refilando de algum contratempo a que ninguém liga ou sorrindo pela prole que iniciou. As avós são complexas. E depois os adolescentes que só querem que os primos mais velhos os orientem logo à noite para sair. As miúdas comparam fatos de banhos e tops. Os miúdos armam-se. Mostram-se todos bronzeados e elas empinadas em saltos que lhes entortam o andar. Mas persistem, não desistem de fazer figura. E não desistem daquelas calças ao fundo da barriga que não favorecem a figura e sairam de moda. Os miúdos são giros. Sorrio sempre ao vê-los. A verdade é que gosto de adolescentes. Sobretudo em férias quando a parvoíce e a inocência se mostram de barriga ao léu e com os cabelos em trejeitos que parecem terem sido encomendados de mota. A adolescência comove-me. E antes disso, as crianças. As crianças não me comovem, despertam-me e fazem-me rir de alegria. Ainda hoje um puto de sete anos ao ser contemplado com um espirro de uma senhora mais velha, que não teve tempo nem equilíbrio no barco para seguir as regras anti-gripe A, levantou-se a correr para o lado oposto da lancha com as pequenas mãos a tapar cada sarda do seu rosto, o nariz e a boca, os olhos muito esbugalhados, e desconfio que ficou sem respirar o resto da viagem. Tive de me conter para não dizer à mãe daquela criança que tinha parido um belíssimo contributo para o nosso futuro. Mesmo giro o rapaz. Do outro lado, os velhos locais de olhar húmido que assistem como eu ao desfile de tudo isto. Pergunto se sentirão o mesmo que eu. Ou se eu já serei velha e olho para tudo como eles. Não pergunto se vemos o mesmo, pergunto-me se veremos da mesma maneira. Com o distanciamento próprio de quem não se quer já, ou ainda (?), comprometer. Como se os outros estivessem num casting, no qual não haverá vencedores nem vencidos, todos têm o seu papel, mas que eu observo sem vergonha e sem nenhum fim a não ser esse mesmo - assistir à beleza da condição humana. Sempre assim foi desde criança, observar os outros tornou-se a maior fonte do meu rendimento escolar e profissional. Às vezes dão-me cotoveladas e pontapés debaixo da mesa para eu parar de olhar que as pessoas podem sentir-me mal. Mas não é por mal que eu o faço. É uma paixão. Eu sou apaixonada por pessoas. Pelas suas fraquezas, pela coragem de viver, pela sacanice, pela humildade, pela incoerência, pela estupidez, pela inteligência... Porque são as pessoas que me provocam mais emoções. Da raiva à compaixão, fazem-me sentir. E sentir é a única coisa que não nos faz arrepender de ousar crescer. Agosto, mês de estágio de todas as esperanças, destila o povo que há dentro deste país. Não é assim um mês tão estúpido.

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